sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Lula faz discurso inflamado para "companheiros"


Em clima de fim de governo, Lula abusa das bravatas

Diante de uma plateia de "companheiros" da Petrobras, presidente se inflama no relato de suas realizações

Rafael Lemos
O presidente Lula fala para funcionários da Petrobras: discurso inflamado
O presidente Lula fala para funcionários da Petrobras: discurso inflamado (Rafael Andrade/Folhapress)
 "Eu, um peão metalúrgico, tive o orgulho de participar da maior capitalização da história do capitalismo", exagerou Lula em discurso inflamado, aos brados, lembrando os velhos tempos de sindicato
A menos de dois meses de entregar o cargo de presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva encara cada evento oficial como uma despedida. E o discurso para uma multidão de operários da Petrobras, no início da noite desta quinta-feira, durante a reinauguração do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da empresa (Cenpes), no campus da UFRJ, na Ilha do Governador, no Rio, foi mais uma oportunidade de exagerar nas bravatas sobre os seus oito anos de mandato.

Ovacionado pelos trabalhadores antes mesmo de abrir a boca, o presidente encontrou terreno fértil para defender seus pontos de vista e usar à vontade todos os seus famosos bordões. Com um discurso permeado por expressões como "nunca antes da história desse país" e "companheiros e companheiras", Lula, que mais cedo batizou a plataforma P-57 em Angra dos Reis, disse estar colhendo os frutos que plantou. O presidente gabou-se de o orçamento do Ministério da Educação ter aumentado de "pouco menos de 19 bilhões de reais para 70 bilhões de reais em 2010" e atribuiu o aumento dos investimentos em pesquisa e tecnologia da Petrobras a uma nova política de educação. "Quando a gente falava em investimento em educação, diziam que não podíamos gastar com educação porque tinha o ajuste fiscal, porque era preciso olhar as contas e o FMI estava de olho. Então, nós mudamos a palavra 'gasto' por 'investimento'", afirmou.

Empolgado, Lula fez um discurso inflamado, aos brados, como nos velhos tempos de oposição. Ele usou o crescimento do valor de mercado da Petrobras durante seu governo - de 15 bilhões para 220 bilhões de dólares, após a recente oferta pública de ações - como base para atacar, sem citar nomes, as privatizações do governo FHC, dizendo que "nem tudo que é público é ruim, e nem tudo que é privado é bom". "Eu, um peão metalúrgico, tive o orgulho de participar da maior capitalização da história do capitalismo", comemorou.

Lula aproveitou ainda para lembrar que foi achincalhado quando disse que a crise financeira internacional de 2008 seria apenas "uma marolinha" para o Brasil, aproveitando para defender a autoestima do país - prática recorrente durante seu governo. "Penso que nós estamos dizendo ao mundo que o Brasil não quer mais ser um país de terceira categoria. Nós queremos ser um país altamente desenvolvido e queremos participar do bloco dos países mais ricos do mundo e, se deus quiser, isso acontecerá, segundo o Banco Mundial, até 2016, se a gente continuar nesse ritmo", afirmou.

O presidente até se permitiu fazer bravatas sobre bastidores de decisões que teria toma. Ele contou, por exemplo, que no início de seu governo decidiu demitir um diretor da Agência Nacional de Petróleo (ANP) e estranhou quando ouviu o argumento de que o "mercado não gostaria". "Eu me perguntei: Esse tal mercado tem título de eleitor? Esse tal mercado vota?", disse, esclarecendo que demitiu o tal diretor assim mesmo.

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